Nós, o Tatu e a cidade que não se entrega
Nosso colaborador Alexandre Kumpinski é outro porto-alegrense indignado com a privatização dos espaços públicos da cidade. Na terra do “não pode!”, cada vez mais vozes se levantam contra os desmandos do desgoverno municipal.
fotos do ato da última quinta-feira por Martino Piccinini
Uma pessoa com farda, escudo, capacete, colete de proteção e cassetete não precisa (e não pode) bater na cabeça de um cidadão desarmado e depois chutar a nuca dele já caído no chão. Isso se chama, no mínimo, covardia. Um policial não pode encher de porrada uma pessoa só porque ela está segurando uma câmera e filmando o que tá acontecendo. Isso se chama, no mínimo, censura. E covardia. E considerando-se que se fez isso pra proteger de ameaças um boneco de plástico promocional de um evento privado com o logo de uma empresa privada estampado no peito que não deveria estar em local público, bem…então temos na mão uma situação completamente absurda. Povo é o que tínhamos na rua, povo inconformado, que perdeu a paciência, que se sente impotente enquanto a sua própria cidade é entregue na mão de empresas que já começaram a definir como ele deve se comportar em lugares que são essencialmente públicos. O Araújo Vianna e o Largo Glênio Peres não são e não podem ser da Opus, da Coca-cola, da Oi ou de qualquer outra marca. Os campos de futebol do Parque da Redenção e do Parcão não podem ser da Tim. As quadras da orla do Guaíba não podem ser da Pepsi. Não podem ser, porque eles são públicos. E o espaço público é de todos: meu, teu, dele, dela, NOSSO! Por isso eu não admito que a população de Porto Alegre não possa mais sentar na grama do Araújo Vianna desde que ele foi privatizado. Aquele morrinho com grama que envolve o teatro sempre foi um espaço de convivência, de troca de ideias, antes e depois dos shows, ou mesmo em dias sem espetáculo. E espaço de convivência é onde pessoas se conectam, riem, coletivizam, se entendem, se unem. É nesse espaço de encontros reais que a política acontece de fato, democraticamente, e não só nas urnas de dois em dois anos. É por isso que eles têm tanto medo de pessoas juntas. Tudo bem pessoas sozinhas, individualizadas e individualistas, vendo tv e lendo jornais em casa, quietinhas, domadas, entregues. Mas pessoas juntas na rua podem começar a perceber como as coisas à sua volta estão funcionando e começar a exigir o que é seu por direito. E podem se articular pra fazer algo a respeito do que não tá certo. Isso não é bom pra eles. Não mesmo. Então eles proíbem: ninguém mais pisa na grama do Araújo Vianna. Proíbem e colocam grades em volta. E mesmo que tu pague um ingresso pra poder usufruir do espaço, o caminho que te leva das grades que cercam a grama até a porta de entrada do teatro não te dá acesso ao gramado porque agora existe um corrimão de cabo a rabo que não te deixa passar pra lá. Daí mesmo que tu transpasse esse corrimão pulando por cima ou se agaixando por baixo dele, tu não pode pisar na grama, muito menos permanecer. Sentar nela e conversar então, nem pensar. Aliás, pensar também não, de preferência, que não é pertinente pros negócios. Daí assim: não pode, Não Pode, NÃO PODE! E fim de papo.
“Mas essa grama é minha!”
NÃO PODE!
“Eu deveria poder.”
NÃO PODE!
“Mas foi sempre tão bom…”
NÃO PODE!
A cidade não tá aí pra ser aproveitada. Não mesmo. A cidade não é mais pras pessoas. Se tu for pra grama, um monte de seguranças vêm e te tiram. Seguranças privados, de terno preto e fone no ouvido. Eles são vários, eles são bravos e vão fazer o trabalho deles, custe o que custar. São pagos pra isso, afinal de contas. E o trabalho deles é executar as leis criadas por uma empresa que agora manda naquele pedaço:
“Só deixem que bebam o que for comprado aqui dentro. Barrem quem tentar entrar com algo de fora.”
SIM, SENHORA!
“Não deixem que tirem a camisa, nem antes, nem durante, nem depois do show.”
SIM, SENHORA!
“Não deixem que as pessoas interajam na grama ou que fiquem em pé na frente do palco. Queremos que elas venham, consumam, aplaudam e caiam fora, não que participem de fato de alguma coisa.”
SIM, SENHORA!
“Em breve mais ordens, mais leis, mais espaço pra mim.”
Não. Não, senhora. Eu não admito. Eu não admito e vou pra grama. E os seguranças vêm e me tiram. E fazem o que for preciso pra isso, inclusive empurrar, torcer braço e dar chave de pescoço. Em mim, que, sem agredir nem ofender ninguém, só argumentava que deveria poder permanecer ali, na minha, na nossa grama. Mas não, NÃO PODE! Eles me pegam e me tiram, me marcam o braço com apertões, me ameaçam lá fora. Eles são despreparados e não trabalham pra população. Afinal, eles têm um patrão. E o patrão, que manda neles, quer também mandar em mim. Eu não me conformo, eu reclamo, eu me indigno. Mas eu não tenho o que fazer, eu não tenho pra quem reclamar. Eles já me tiraram da grama. E eles podem me tirar da grama, porque agora o Araújo é mais da Opus e da Coca do que meu ou teu, e eles é que mandam agora no NOSSO espaço. Eu não me conformo, eu sigo reclamando e sigo sendo ameaçado. Eles vão me pegar lá fora, eu tô atrapalhando o trabalho deles, se eles fossem da polícia já teriam quebrado a minha cara entre outras frases de efeito. Querem que eu fique quieto. Mas eu não me calo. “Vai reclamar pro prefeito!”, um dos seguranças me diz. E ele tem razão. Foi a prefeitura. Ela que entregou o Araújo. Ela que deveria seguir administrando aquele espaço. Afinal, aquele espaço é NOSSO, eu nunca vou deixar isso de lado. O espaço público é NOSSO! É tão simples, tão claro, tão justo. A prefeitura não pode entregar eles pra empresas sem pelo menos nos consultar antes. A população nunca foi ouvida a respeito do Araújo, das quadras de futebol, da rua do Brique, do Largo Glênio Peres e de todos os outros espaços que tão entregues. Isso simplesmente não é certo. É antiético, é imoral. E a desculpa de que a iniciativa privada melhora o espaço não me serve. A prefeitura deveria ter competência de gerir os espaços públicos por si só. A Prefeitura me dizer que privatiza pra que o espaço melhore é usar a própria incompetência como argumento pra justificar a entrega do que é da população por excelência. Isso tá errado, completamente errado! Tá tudo errado! Mas a prefeitura vai lá e entrega. E por uma penca, uma dezena de anos contratuados. Tá entregue: eu não posso fazer mais nada. Ninguém pode fazer mais nada. Não há pra quem recorrer. Tá entregue. Engole em seco, segura o choro, baixa a cabeça e vai embora, magrão. Tá entregue. Mas não: eles podem até entregar o que é meu, mas não vão me entregar. Eu não vou me entregar. Eu não tenho o que fazer, mas eu faço de qualquer jeito. Chega! Eu e todos os outros que tão vendo acontecer tudo isso que eu tô vendo acontecer. A gente pega aquela lata inflável gigante de Coca-cola que tá na grama do Araújo e arranca ela de lá. A grama é nossa, não da Coca. Nem da Opus. A gente grita, vibra, aplaude. A CIDADE É NOSSA! A lata é arrastada até o meio da rua e vira fogueira. As pessoas dançam em volta, cantam de alegria. Não vamos baixar a cabeça, não vamos deixar por isso mesmo!
No outro dia vai ser o Tatu. O ato se chama Defesa Pública da Alegria e clama contra a situação triste da nossa Porto Alegre. Meu corpo não vai estar lá porque vou estar trabalhando fora da cidade. Mas minha alma vai, acompanhando os amigos e os milhares que também não se conformam. A gente vai brincar, dançar, cantar, pular na frente do prédio da prefeitura. A gente vai gritar bem alto, mesmo sabendo que o prefeito não tá lá pra ouvir. A gente vai gritar que não aceitamos que ele siga entregando a nossa cidade pros conchavos dele. A gente vai gritar que não tá certo remover comunidades pobres de suas casas e jogá-las lá pra bem longe, pra maquiar a cidade pra copa e abrir espaço pra especulação imobiliária. A gente vai gritar que não aceitamos que a prefeitura feche sistematicamente todos os espaços de convivência de Porto Alegre, como aconteceu com os bares na Cidade Baixa. A gente vai gritar que um grupo de cidadãos nas ruas não pode ser considerado “aglomeração indevida de pessoas” como se apresentou como uma das justificativas pro fechamento do Bambus. A gente vai gritar que o Largo Glênio Peres, histórico espaço democrático de manifestações políticas e culturais, do lado da prefeitura, no coração da cidade, também não pode deixar de ser nosso. Aliás, a gente já vinha gritando há muito tempo a respeito desse largo, desde que a prefeitura começou a transformá-lo em um estacionamento pra “melhorar o nível dos frequentadores do Mercado Público” (que fica ali do lado), nas palavras do nosso então Secretário Municipal da Indústria e Comércio (Smic), o Walter Nagelstein, braço direito do prefeito Fortunati em toda essa missão de higienização social e privatizações que tá rolando na cidade. Então, toda terça-feira no fim da tarde, pessoas passaram a se reunir no Largo pra tocar músicas, fazer teatro, malabarismo, jogar bola e dizer que não iriam aceitar que ele virasse, além de suporte pra publicidade de refrigerante, um estacionamento. Porque um largo é pra ser um espaço de convivência, e carros estacionados tomando o espaço não permitem essa convivência. Mas o Largo Glênio Peres já não era mais só suporte pra publicidade da Coca. Já era dela também, gerenciada pela mesma Opus do Araújo Vianna, que é a sua representante de ações de marketing. Baixaram então uma lei proibindo qualquer tipo de manifestação ali, política ou cultural. A cidade não tá aí pra ser aproveitada, de fato. Pelo menos não pela população. E eu me pergunto se vivo mesmo numa democracia, se a ditadura de fato acabou. Tá parecendo que não. Vou repetir, porque é difícil mesmo de acreditar: baixaram uma lei proibindo qualquer tipo de manifestação política ou cultural no Largo Glênio Peres. A desculpa pra esse absurdo? Que as manifestações poderiam estragar o piso histórico do espaço. É de rir, pra não chorar de raiva, de impotência, de desamparo: carros estacionando no piso histórico tudo bem, tudo certo, maravilha. Mas pessoas podem estragar o piso pisando nele, como não? Calhordas! E não pára por aí: esse mesmo piso, alguns meses depois, iria ser parcialmente destruído pra se colocar uma sequência de chafarizes no espaço, de ponta a ponta. Um chafariz que corta o Largo ao meio e que atrapalha concretamente qualquer tipo de aglomeração de pessoas por ali. Um chafariz que foi acionado durante o comício de um dos concorrentes do prefeito nas eleições, molhando pessoas, seus cartazes, suas bandeiras e suas dignidades. Mas não foi só pra instalar essa traquitana que o tão querido piso histórico foi maculado pela mesma prefeitura que havia pouco tempo protegido ele dos tão vis cidadãos que queriam pisar em cima dele sob a indesculpável vontade de exercer sua cidadania. O piso foi destruído também pra se instalar ali um boneco de plástico gigante vestindo uma camiseta vermelha onde se lia “Coca-Cola”. Um totem privado, cravado no meio do espaço público, em meio a toda essa situação. E ao redor desse totem, placas dizendo que “Porto Alegre abre a felicidade no Largo Glênio Peres”, numa referência explícita ao slogan da marca, com o logo da prefeitura e o logo da Coca lado a lado nas placas, do mesmo tamanho. No prédio da prefeitura, a mesma situação: um banner pendurado com os dois logos em igualdade. E a gente começa a se perguntar se a cidade é nossa mesmo. E aquele boneco-tatu-totem-cola tá ali, colorido, divertido, rindo da nossa cara. Um boneco promocional, privado, no nosso chão. No NOSSO chão onde não podemos mais pisar. Só se for pra passar e ir embora. Pra permanecer, pra se manifestar, pra dividir experiência, pra ser cidadão, não.
Então a paciência vai se esgotar. O alvo natural, por ser símbolo cínico erguido diante dos nossos narizes, será o Tatu. Nós seremos muitos ali na praça. É o povo ali na praça. É o povo que não tá disposto a baixar a cabeça e a aceitar. É o povo que tá com tudo engasgado, transbordando. É o povo que sai da frente da prefeitura e vai em direção ao boneco. É o povo que cerca o boneco, que dança, canta, encara e xinga em volta do boneco. É o povo que quer ver aquele pedaço de plástico no chão, e não imperando, imponente, no âmago da nossa cidade. E é o povo que começa a apanhar da polícia antes mesmo de conseguir encostar no boneco. E é o povo que toma escudada na cara enquanto ainda só grita em protesto. É o povo que toma cassetete na cabeça só por estar segurando uma câmera ligada na mão. É o povo, sou eu, são meus amigos, são meus amores, é tu, somos nós que somos massacrados, que temos nossos corpos violentados em nome daquele boneco ridículo e de tudo o que ele representa. São as nossas cabeças abertas, nossos ossos quebrados, nossas câmeras destruídas, nossos direitos destroçados por homens de farda bem equipados. Somos nós que seremos chamados de vândalos, de vagabundos, de bandidos. É contra nós que a grande imprensa vai se colocar ferrenhamente. E é enquanto somos agredidos covardemente que derrubaremos a merda do tatu, em meio a bombas de efeito moral atiradas diretamente na gente, e não em clareiras, como manda a lei. Somos nós em meio a balas de borracha disparadas a poucos metros de distância, que é pra ferir mesmo. Somos nós que vamos ser segurados por policiais à paisana no meio da multidão pra que os outros policiais possam chegar e nos bater, nos derrubar e nos chutar no chão, desarmados. E depois de fazer isso com a gente é que vão jogar a culpa em nós. Pobre Tatu, atacado por vândalos! Na Zero Hora vamos ler “apoio total e irrestrito ao mascote da Copa agredido ontem na capital”, enquanto as nossas feridas ainda sangram. E é ainda com a alma em bugalhos que vamos ouvir o Lasier Martins falar no Jornal do Almoço que somos estúpidos fanáticos que tiveram o que mereceram, e famílias que não entendem muito bem o que tá acontecendo vão concordar com ele entre uma garfada e outra. Seremos nós os culpados pela violência covarde da qual fomos vítimas. Entregaram o que era nosso, não nos deram poder de escolha, nos levaram ao limite, esfregaram tudo na nossa cara e depois nos bateram, nos massacraram. E querem que a gente se cale. Querem que a gente sinta medo. Querem que a gente se entregue. Só que não: nós não vamos nos entregar. Nós não vamos entregar a nossa cidade. Nós não vamos baixar a cabeça. Nós não vamos deixar que o medo tome conta. Nós não vamos deixar de sair pra rua pra cantar, pra gritar, pra xingar, pra conversar, pra existir, pra viver. E pra levar pau se for preciso. E pra derrubar boneco e pra quebrar placa e pra queimar plástico se for preciso. Porque nós enxergamos o que tá acontecendo e não vamos deixar por isso mesmo. Porque nós somos muitos e seremos cada vez mais. E lutaremos pelo que é nosso, mesmo que isso signifique sermos considerados vagabundos, bandidos, marginais. Porque o que é NOSSO, É NOSSO! E NÃO PODE DEIXAR DE SER!
É brabo isso daí, Kumpinski! Qual será o próximo bem público que nos vai ser tomado?
O pior é ainda ter a tua própria família dizendo que tu ta errado e que eram todos vândalos. Lavagem cerebral: mídia, tu tá fazendo bem certinho.
“Art. 4º A realização de shows artísticos, espetáculos e eventos
culturais que façam uso de palco e sonorização ficarão limitados a 2 (dois)
eventos mensais, com duração de no máximo 1 (um) dia cada um, excetuadas as
manifestações de caráter político que poderão ficar vinculadas à aplicação do
calendário vigente no período eleitoral. ”
“Art. 5º Será permitida a utilização do Largo pelos artistas de rua,
desde que, devidamente autorizados pelo Executivo Municipal por intermédio de
seus órgãos competentes, vedada a utilização de som amplificado.”
“Art. 6º Fica vedada, sob qualquer hipótese, a utilização de som
amplificado no Largo, exceto para os eventos descritos nos arts. 3º e 4º desta
Lei.” <- Única coisa que realmente afeta atos políticos.
Podiam ler a lei do Glênio Peres antes de criticar tanto, né.
http://projetos.camarapoa.rs.gov.br/projetos/113698
Só querem ser contra alguma coisa. Pergunto quantos de vocês foram ajudar na reconstrução de qualquer espaço público, quantos fazem caridade ou alguma ação social no bairro? Essa cidade não possui ideologia alguma, não respeitam nem mesmo os seus principais símbolos, como o Laçador (alguém já foi limpá-lo das pichações? Ou acha que símbolos são de propriedade do Estado?). Tenho saudade da Porto Alegre de 10-15 anos atrás, uma geração que não era alienada e contrária a qualquer coisa, só pra se fazer visível e presente. Estou rezando pra que tirem a Copa do Mundo daqui e qualquer outro evento grande “patrocinado”, quem sabe assim aprendam a ter uma ideologia decente. Tudo começa pela educação, se não a tem, você não tem nada. Porto Alegre hoje não tem nada, é só mais um local caro, sujo e violento, sem nada a oferecer.
Victoria, a lei já tinha sido lida. O que acho é que tu não sacou o caráter pernicioso dela. Não é só o artigo 6º que realmente afeta as manifestações, como tu apontou. Todos os artigos atacam a liberdade de se expressar de forma livre naquele Largo. A lógica agora é que se manifestar não pode, a não ser que tu peça autorização pra fazê-lo (e a Prefeitura conceda essa autorização). Ou seja, a princípio é proibido, enquanto o certo seria ser sempre permitido. A lógica tá do avesso, percebe?
Lê com calma ali o que tu colou que tu vai se ligar: o Zé da Folha não pode mais ir ali tocar um violão e assoprar uma folha de árvore sem pedir uma autorização pra poder tocar ali naquele espaço específico (uma burocracia que vai acabar afastando o artista dali, que é o que no fim das contas parece que quem criou essa lei quer). Além de tudo ele vai ter que deixar o amplificadorzinho dele em casa. Ou seja, tão nos dizendo que se a Prefeitura nos deixar ir pro Largo se manifestar, vai ser do jeito que ela quiser (ou do jeito que a Opus quiser, como no Araújo?). E agora qualquer manifestação contra alguma política do governo vai ter que pedir autorização pra própria Prefeitura pra poder acontecer ali? Tem algo errado nessa lógica, tu não acha?
Antes o Largo Glênio Peres era totalmente livre pra manifestações, como qualquer espaço público deve ser. Porque então criar leis que restringem e regulamentam essas manifestações? Aliás, regulamentar manifestações dizendo o quanto e em que momento elas podem acontecer já é por si só um ato absurdo, não te parece? Ou voltamos à ditadura? É melhor as pessoas não poderem se manifestar em espaço público quando bem entenderem? Porque é melhor que não? Pra quem é melhor que não?
Vamos aceitar, mansos, que temos que pedir autorização pras autoridades pra podermos abrir a boca agora?
cara, eu nem perdi meu tempo lendo tudo isso de tanta bobagem… explico, só em três pontos, porque sei me explicar sucintamente:
1) privatização é uma coisa, concessão é outra. antes de criticar, se informe. ou de repente discuta isso nas tuas discussões democráticas. outra: o gramado do araújo viana é uma pequena porção do espaço público. tens toda a redenção pra aproveitar;
2) e falando de democracia, o voto elegeu o prefeito que tu criticas, quase 2/3 da população apoiam o mesmo. a democracia falou e endossou as ações do prefeito. aliás, tu sabia que uma PPP, que tu chamas erradamente de ocupação do espaço público ou privatização tem um objetivo para o bem comum? 2/3 da população acharam que isso é certo, e bem, como é uma democracia e tu gosta desse discurso, sugiro que aceite;
3) porque esse asco das instituições privadas? talvez como artista mal informado tu devias estudar o Renascimento e o conceito de mecenas, e também dar uma olhada nos maiores patrocinadores de arte do país: são instituições privadas. agradeça a coca-cola ou a opus por darem dinheiro pros teus “companheiros” pra que eles possam produzir e se mostrar. e ainda, sobre patrocinio, pelo que entendi tu és o irmão que tem um brinquedo que não usa, mas não quer que ninguém mais brinque com ele. tu diz que o espaço público é nosso, é teu, repete isso várias vezes: mas os espaços (orla, araujo viana) não tinham uso nenhum. agora a população tem uma orla legal pra praticar exercicios e um lugar de show numa boa localização. mas parece-me que pra ti isso não é importante. o importante é teu ideal de “é meu, e ninguém brinca com o que é meu”. muito egocentrico, nada democratico.
a crítica sobre a mídia e etc é enorme, mas nenhum dos “revoltados do tatu” estudou as PPP ou publicou qualquer artigo explicando porque ela faz mal pra cidade – ideologia não é explicação, é opinião. quem está sendo imparcial, cara pálida? devo até imaginar que meu comentário poderá ser moderado ou até deletado. engraçado não?
Oi, Marcos. Já que tu resolveu usar teu tempo respondendo o que tu não chegou nem a ler por completo, vamos lá.
1) Concessão é uma forma de privatização. Não é total, nem definitiva, mas ainda assim é privatização. Devolvo pra ti o conselho de se informar antes de criticar. Nos casos citados no meu texto, foram espaços públicos que sofreram concessão, não empresas, mas isso não descaracteriza a privatização. O que deveria ser feito pela máquina pública passa a ser feito pela iniciativa privada em troca de dinheiro público, de publicidade e de poder sobre o espaço gerido. É o que estamos vendo acontecer concretamente aqui em Poa. E se tu acha que eu não tenho que me preocupar ou reclamar de nada só pq a grama do Araújo é só uma parte da Redenção, peço pra que tu te lembre que os campos de futebol dela (e tb do Parcão) já são da Tim, e que já temos vários espaços da Pepsi por lá tb. Tu acha mesmo que eu devo ficar tranquilo pensando que eu tenho o resto do espaço pra aproveitar? E o que eu faço com a intenção declarada da Prefeitura de cercar o parque (aliás, já tá rolando o que chamam de cercamento virtual, com 18 câmeras)? Quem me garante que depois das grades não vão privatizar toda a Redenção? Que tal não poder mais entrar com instrumentos no parque? Que tal ter que alugar bolas de futebol nos quiosques da marca que vai mandar no pedaço pra poder jogar uma pelada? Quando tu entrega o poder na mão da iniciativa privada, ela é que inventa as regras. E com as regras dela, ela é que vai sair ganhando, não te engana. Acreditar em altruísmo de megacorporação a essa altura do campeonato é ingenuidade ou cinismo, me desculpe. Daí, acompanha comigo: primeiro o Araújo e alguns pedaços de parque, em breve quem sabe a Redenção inteira, depois as praças, os largos. Logo mais, os canteiros, os meios fios, as ruas todas, pq não? De repente tu abre os olhos tarde demais e tu não tem nenhum poder sobre a cidade que um dia já foi tua. Tu não acha que isso deveria te preocupar um pouquinho?
2) Não necessariamente os 2/3 da população que votaram no Fortunati concordam com a privatização dos espaços públicos. Muita gente nem fica sabendo que isso tá acontecendo ou não percebe o que isso pode significar a médio ou longo prazo, já que o assunto é pouco debatido – ou debatido de forma torpe – na grande mídia. Por isso é importante a possibilidade de se manifestar sobre o assunto, que é uma maneira de se criar diálogo sobre ele (e olha nós aqui, debatendo, dialogando). Então, mesmo que se tome como verdade que a maioria da população concorda com o prefeito no caso das privatizações, isso não quer dizer que seja anti-democrático da minha parte querer me manifestar sobre o assunto sendo contrário à opinião da maioria.
3) Pode crer que tô por dentro do mecenato de marcas hoje em dia. De fato, muitas coisas (eu diria que coisas demais) são patrocinadas e dependem do dinheiro privado pra existir. Agora, achar que as empresas entram nessa por serem boazinhas, por quererem ajudar os artistas ou a população é, de novo, ingenuidade. A iniciativa privada patrocina arte (e esporte, entre outras várias coisas) em troca de espaço de publicidade, pra criar uma boa imagem pras suas marcas – que normalmente precisam mesmo de uma competente maquiagem pra parecer o que não são – pegando emprestadas pra si, em troca de dinheiro, as imagens dos músicos, dos atletas, dos atores famosos. No fim, iniciativa privada só quer mais lucro pra si, só quer que as pessoas consumam mais, só quer crescer cada vez mais. Lamento dizer, mas o Itaú não foi feito pra você e quando tu abre uma lata de coca-cola o que tem ali dentro não é a felicidade, percebe?
Sobre a melhoria dos espaços privatizados, colo aqui o que tá escrito ali em cima que tu não deve ter lido: “a desculpa de que a iniciativa privada melhora o espaço não me serve. A prefeitura deveria ter competência de gerir os espaços públicos por si só. A Prefeitura me dizer que privatiza pra que o espaço melhore é usar a própria incompetência como argumento pra justificar a entrega do que é da população por excelência.” Espero que baste.
Qualquer coisa, tamo aí pra seguir o diálogo.
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Marcos, moderamos os comentários para que não sejam publicados em nossa página comentários ofensivos. Aprovamos o seu assim que lido. Coisa que tu não fizeste com o texto antes de comentar.
porque ao contrário do meu texto, os meus argumentos fazem sentido, tem fatos, não ideologia. fiz conhecimento dos fatos antes de criticar, etc. btw, de tudo que escrevi tu só responde sobre a moderação?
outra, tu discorda que a polícia reagiu as ofensas na tal “caça ao tatu”, mas tu fazes o mesmo em teu blog? nada explica a violencia, mas tu mesmo prova que as ofensas devem ser reprimidas. OUCH
Respondemos sobre a moderação porque é nosso papel quando o texto é de um colaborador. Quanto a moderar comentários, é uma medida de segurança contra processos, porque sim, podemos ser processados caso veiculemos comentários de ódio, racistas, por exemplo. Enfim, se quiseres conversar conosco sobre ideologia, fatos e ofensas, podemos bater um papo direto pelo facebook http://www.facebook.com/jtabare, pelo nosso e-mail tabare@tabare.net. Tu também podes enviar uma carta ou artigo defendendo o teu ponto de vista, pro mesmo e-mail acima.
Tenho mais de 35 anos e te digo, a grama do Araújo Viana, éra linda, o Scaler, te lembra, éra tri. O problema que de um tempão para cá não dava mais para ir ao Araújo Viana pois ele estava fechado, o teto ameaçava cair na tua cabeça e depois do show, te digo com certeza, tu serias assaltado. Vivemos em um país, que infelizmente, só privatizando algumas espaços eles poderão dar certo. A free way, é do teu tempo o perigo de pifar o carro ou acabar a gasolina na estrada e tu ficar empenhado até o outro dia, hoje, com o pedágio, eu ligo e sou rebocado em 15 minutos, por que não vão reclamar da free way privatizada? Por último, é do teu tempo a Av. Diário de Notícias, aquela do hipódromo, lá, à tempos atrás, nem de carro se passava à noite, ficaria sem o seu carro. Tirando essa gurizada que saiu das fraldas ontem, os “das antigas” devem mostrar que hoje, as coisas estão melhores.
Tu fala em democracia ao mesmo tempo em que “fala em nome do povo”. Não vê uma falha essencial aí? Não se pode falar em nome do povo, dizer que o povo não vai se rebaixar etc. e tal. O povo elegeu, por voto democrático, em massa, o Fortunati. Como tu pode reivindicar a voz do povo e saber o que o povo quer e o que o povo fará?
Concordo de modo geral com a ideia do texto e abomino as práticas do governo e repudio a ação policial. Ainda assim, acho que o texto está equivocado pela abordagem. Mais do que falar em nome do povo, deveria se tentar entender os motivos que levaram 65% de porto-alegrenses a votar nesse idiota.
Oi, Augusto. Não acho que “povo” se constitua só quando se apresenta como a maioria da população, nem só como uma população una, indivisível. Penso que um conjunto de cidadãos como o que éramos na ocasião também é povo. Assim como numa parada gay, onde os cidadãos que ali se manifestam não defendem algo que seja consensuado entre a maioria da população, mas nem por isso deixam de ser povo na rua, nénão?
Ademais, fixei no meu texto a ideia de que éramos povo como um contraponto à ideia facilmente disseminável (e disseminada) de que nós manifestantes não passamos de vândalos, párias sociais. Uma espécie de “não tentem nos excluir da questão cidadã nos marginalizando: éramos povo na rua.” E éramos mesmo.
abraço!
No dia em que nessa cidade de 1,4mi de habitantes não houverem mais os marginais que atearam fogo em metade dos tóneis de lixos comprados, roubado 20% das recém instaladas bicicletas para aluguel, pichado inúmeros prédios públicos ou privados, coagiado os comerciantes de todo um bairro para fecharem seus estabelecimentos por terem sofrido fiscalização sobre seus CDs e DVDs piratas, teremos a liberdade e segurança para utilizar nossos espaços públicos sem a interferência de seguranças, públicos ou não. Não estamos na Holanda, na Suiça ou na Inglaterra, onde o governo pode até cobrar menos impostos e investir mais em parques, inclusive cercando-os e fechando a noite para manter o nível de limpeza e utilidade real da população contribuinte. Vivemos em um país de terceiro mundo, com inúmeras áreas sem saneamento, sem asfalto, sem hospitais ou qualquer suporte parte milhares de cidadãos. É nisso que a administração pública tem que colocar o dinheiro que entregamos a eles. Dar condições básicas de vida e possibilidade de crescerem, para que não se tornem os mesmos marginais que vandalizam, roubam e cheiram pedra de crack, para poder dormir chapado e não perceber que estão dormindo no vento, comendo lixo e fedendo a esgoto. Se houverem empresas que se interessem em Investir para melhorar espaços públicos, em troca de utilizar 20m2 que seja de uma área de 10000m2 para colocar um banner, boneco ou o que seja, e me proporcionar um lugar habitável, livrando de um encargo que não seria certamente bem feito pela administração pública, pelos motivos já colocados, eu não me importaria, e certamente agradeceria. Nunca tinha caminhado na orla do Guaíba até que foi reinventada pela Pepsi. Nunca iria no Araújo Viana antes que a Oi bancasse uma bela reforma. Nunca meus amigos turistas posariam para fotos na cidade baixa durante o dia se uma empresa de tintas não investisse na pintura de todas as casas da João Alfredo. Entendo que o texto foi escrito por alguém muito inteligente, capaz de argumentar bem e até apelar emocionalmente, inclusive admiro muito tuas músicas, mas já percebi que devemos ser mais práticos e menos utópicos. Se não o tempo passa, a gente briga, espera, morre e não aproveita o que poderia ser aproveitado. Se indigne mais com o que a prefeitura não faz nas vilas, na melhoria da mobilidade, na qualidade das vias públicas, na assistência a saúde, e releve ao olhar a marca de um refrigerante querendo promoção. Na pior das hipóteses, usa o espaço que eles investiram, e não toma o refrigerante deles. Não vai contra teus princípios e possibilita um convívio harmônico e de qualidade de todos.
Grande abraço a todos que podem discutir com argumentos, como o autor, e sem violência, vandalismo ou xingamentos.
Fico impressionada como essa gente,que se põe contra o movimento :Em defesa da Alegria,está alienada em seus conceitos,como p.ex esse cara aí, o tal Marcos,cara:te liga,se tu não sabe o que tá acontecendo em Porto Alegre,venha participar e desalienar essa cabecinha fechada.Nós,artisatas,músicos,malabaristas,trabalhadores informais,enfim,nós,o povo,povão mesmo,sofremos na pele todos os dias a discriminação.Os espaços públicos estão sendo tomados de nós,e nosso movimento,é para que esses espaços que sempre foram nossos,continuem sendo.Os bares foram fechados,o Araújo Viana,Glênio Perez e em breve a Redenção toda,privatizados.Vcs que defendem os pedágios e as PPP,estão defendendo que a iniciativa privada tome conta do que deveria ser gerido pelo estado e município.Não é justificativa,dizer q o teto do Araújo estava caindo e as estradas intransitáveis ,e por isso então vamos entregar na mão das grandes coorporações o que o governo “não consegue gerir”.Lembrem-se disso quando a Amazonia for tomada pelos EUA,com a mesma desculpa.Eu não fui limpar as pixações no laçador,mas não tenho problema nenhum em fazê-lo se for o caso.Inclusive proponho que ao invés de Parceria Público Privadas,deveriam existir parcerias onde o povo fosse protagonista.E, por que vcs acham que a repressão foi tão grande em cima dos manifestantes,justamente pq as pessoas,ao contrário do que muitos vêm dizendo,”que lutamos por uma ideologia sem causa”,pelo contrário essas pessoas estão cada vez mais unidas ,nesse caso em defesa da cultura.E podemos estar juntos por outras causas,inclusive ao lado de vcs que hj nos criticam.Ao invés de criticar sem se informar,exponha teu ponto de vista,eduque então os “rebeldes sem causa” e talvez vc se surpreenda.
Nunca esqueçam,daquele velho ditado: “Quem paga a banda,escolhe a música”
Que sirva para reflexão.Somos todos povo,e devemos lutar juntos!!!
Namastê
Porto alegre esta feia,pichada e suja lixo nas ruas embora os pobres funcionarios limpem diariamente mas sempre tem um alienado para ter direitos e nenhum dever,quem paga os estragos somos nos e o pior o coitado que tem pequena empresa e sustenta seus filhos tem predio vandalizado por burgueses canalhas tem tudo de graça em casa e acha que so tem direitos,a mudança começa vendo o que tu faz pelo meio ambiente pare de destruir e construa pois voce MESMO SERA A PROXIMA VITIMA.